Autor: Janaina Gama, Copresidente da Delegação Brasileira do W20

O lema do G20 sob a presidência do Brasil em 2024 é "construir um mundo justo e sustentável". E como podemos falar de sustentabilidade e justiça sem integrar a equidade de gênero, que não é abordada em nenhum país[1]? Ressaltamos a importância do W20, um grupo de engajamento criado em 2014 na Austrália. Ele começou seu trabalho no ano seguinte na Turquia, passando pela China, Alemanha, Argentina, Japão, Arábia Saudita, Itália, Indonésia e Índia.

No W20[2] Brasil, somos mulheres do meio acadêmico, do empreendedorismo e da sociedade civil, oferecendo nossos esforços como voluntárias. Para trazer ainda mais diversidade ao nosso grupo, convidamos especialistas para trabalhar com delegados de outros países do G20 para desenvolver recomendações de políticas públicas que apoiem o empoderamento econômico das mulheres (tanto local quanto globalmente).

Nossos grupos de trabalho priorizarão cinco temas: empreendedorismo, mulheres em STEM, economia do cuidado, violência baseada em gênero e justiça climática, adotando uma abordagem analítica interseccional. Essa abordagem é fundamental para entender a desigualdade de gênero no Brasil. Os dados revelam que as mulheres negras e indígenas são as mais afetadas pela desigualdade e por várias formas de violência, por exemplo:

  • As mulheres negras dedicam mais tempo às atividades de cuidado (18,6 horas em média), seguidas pelas mulheres brancas (17,1 horas). Fonte: IBGE, 2022
  • Entre 2000 e 2020, houve um aumento de 167% no número de feminicídios de mulheres indígenas. Fonte: Instituto Igarapé, 2023
  • As mulheres negras ocupam apenas 11% dos cargos no setor de tecnologia. Fonte: PretaLab, 2022
  • As mulheres negras representam 17% dos empreendedores do país e ganham menos do que todos os outros grupos. Fonte: SEBRAE, 2019
  • Além do rastro de destruição observado em imagens de rios secos, o garimpo ilegal de ouro nas terras indígenas Yanomami, Kayapó e Munduruku causou contaminação do leite materno em mulheres que amamentam, interrupções na gravidez e doenças.

Para nós, do W20 Brasil, em um país que se autodeclara predominantemente negro (56%, IBGE 2022), essa interseccionalidade deve nortear as discussões para impactar positivamente a maioria da população brasileira. Como as sucessivas presidências do G20 serão ocupadas pela África do Sul em 2025 e pelos Estados Unidos em 2026, a perspectiva é que as questões étnico-raciais continuem sendo prioridade nessa agenda.

A W20 também trabalha com um conselho de mulheres brasileiras líderes para fornecer orientação e defesa de nossas agendas. Também contamos com o apoio de empresas e instituições para patrocínios e curadoria de conhecimento. Em breve, compartilharemos os nomes dessas pessoas e organizações!

Ao final desse processo, catalisado pelos grupos de trabalho, uma comissão analisará as contribuições e criará um resumo de consenso para cada eixo em um documento final, o Communiqué. Ele será entregue ao presidente Lula para que nossas recomendações sobre equidade de gênero sejam incluídas na declaração final do G20. Nossa missão é influenciar a criação de políticas públicas que garantam um mundo justo e sustentável, no qual nenhuma mulher seja deixada para trás.

[1] Apesar de países como Islândia, Finlândia, Noruega e Suécia serem exemplos de lugares com políticas abrangentes de igualdade de gênero, há desafios a serem superados: buscar a igualdade de gênero é um processo contínuo

[2] Mulheres 20

Comunicado. Ele será entregue ao Presidente Lula para que nossas recomendações sobre equidade de gênero possam ser incluídas na declaração final do G20. Nossa missão é influenciar a criação de políticas públicas que garantam um mundo justo e sustentável, no qual nenhuma mulher seja deixada para trás.

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